Marituba no top 10 dos casais gays

Capital homoafetiva do Pará toma as ruas (Foto: 
Rogério Uchôa)
(Foto: Rogério Uchôa)
O babalorishá (sacerdote, nas religiões afro-brasileiras) João Carvalho, de 42 anos, atenta para a hipocrisia. “Aqui em Marituba o preconceito é grande. Mantenho muito pouco contato com meus vizinhos por causa disso. Só ‘Bom dia’ ou ‘Boa noite’. Eles não querem ficar ‘falados’ na rua por se relacionar comigo, por eu ser homossexual. Mas no carnaval eu abafo. Saio montado com meu esplendor e todo mundo se aproxima. Dá pra entender?”, questiona.
O preconceito é uma dúvida que o assombra desde que se assumiu gay, há cerca de 20 anos. Ele foi criado em uma família conservadora. O pai é pastor da Assembleia de Deus. Por muitos anos teve esposa, com a qual teve três filhos. Já dá para imaginar o choque quando resolveu sair do armário. “Tive medo de assumir, mas a vontade de ser feliz era maior. No dia que dei a notícia que ia me separar da minha mulher, meu pai perdeu a cabeça: quis me enforcar”, relembra.
Superado o trauma inicial, muita coisa melhorou em sua vida. Ele diz ter conseguido a aceitação da família e a admiração dos filhos. E agora, experimenta um sentimento de realização com o recente reconhecimento da união homoafetiva pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em maio deste ano. “Tenho um relacionamento de 17 anos. É uma vitória conquistar esse direito. Quero andar de mãos dadas com meu namorado no supermercado sem ter medo”, diz João Carvalho.
Em busca da tão sonhada igualdade, ele vai tomar as ruas hoje durante a 6ª Parada LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) de Marituba. Organizada pelo Instituto de Combate à Discriminação em Geral (ICDG), o evento terá como tema este ano “Todos Contra a Corrupção e Pela Aprovação da Lei Anti-Homofobia”.
A festa está prevista para começar por volta das 14h com concentração em frente à praça Matriz de Marituba, município a 30 minutos da capital. Serão três quilômetros de percurso, que irão reunir dois trios elétricos, com a apresentação de DJs e concurso de drag queens.
“É uma festa para comemorarmos depois que o STF reconheceu a validade da união estável homoafetiva no Brasil. Mas a luta continua. Estamos cobrando com a parada a aprovação do Projeto de Lei 122, que criminaliza a homofobia”, afirma Silvio Santos, 27 anos, organizador da parada e fundador do ICDG.
Criado em 2005, o Instituto é uma organização não governamental sem fins lucrativos que atua em Marituba. O grande cartão de visita do grupo atualmente é a Parada LGBT, que reuniu no ano passado cerca de sete mil pessoas, de acordo com levantamento da Polícia Militar.
Mas eles também desenvolvem ações sociais, como a Mega-Ação de Cidadania, que acontece em outubro. Além de oferecer assessoria jurídica e orientação a grupos minoritários. “Este ano queremos que o governo municipal crie uma coordenação LGBT. Não existe política pública voltada para gays no município. Isso só aumenta o preconceito e a violência”, resume Silvio Santos.
Marituba no top 10 dos casais gays
A comunidade gay local chamou atenção recentemente após a divulgação dos mais recentes dados do Censo do IBGE. De acordo com a publicação, Marituba esta entre os dez municípios com mais casais de gays e lésbicas do Brasil.
O top 10 foi estipulado a partir de dados fornecidos pelo Censo Demográfico de 2010. Fazem parte da lista as cidades de São José, Balneário Camboriú (SC), Praia Grande (SP), Niterói (RJ), Parnamirim (RN), Florianópolis (PR), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro(RJ) e Maricá (RJ). Marituba é o único representante da região Norte na classificação. No total, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) encontrou cerca de 60 mil brasileiros que declararam viver com alguém do mesmo sexo. É a primeira pesquisa que inclui amostra referente ao estado civil de pessoas do mesmo sexo.
Segundo o levantamento, no Pará são 1.779 casais vivendo em união estável. O número, no entanto, está bem abaixo da realidade, uma vez que o estudo considera apenas pessoas responsáveis por seus lares e exclui, por exemplo, filhos de casais heterossexuais que se declaram gays.
Medo e violência
Para Samuel Sardinha, Coordenador da Livre Orientação Sexual da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, os números estão subestimados. “Acreditamos que o número seja maior. Muitas pessoas ainda têm medo e timidez de se declarar”, analisa. Para ilustrar seu argumento, ele cita os números da violência contra homossexuais no Pará. Em 2010, foram oito casos de homicídio. Este ano, só no primeiro semestre e já foram contabilizadas 12 mortes. “A educação é a melhor saída. Os gays precisam de paradas, precisam de visibilidade. Precisa ser discutida sexualidade nas escolas. Só assim a sociedade aprende a conviver e respeitar”, vaticina.
O COMBATE
FAÇA CONTATO
Se você sofre preconceito por sua orientação sexual entre em contanto com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, que fica na rua 28 de setembro, 339, comércio. Telefone: (91) 4009-2747.
O DISQUE DIREITOS HUMANOS
Existe também um serviço nacional: o Disque Direitos Humanos, conhecido como disque 100. O disque 100 foi criado em maio de 2003 para facilitar a denúncia de atos de agressão contra menores. Atualmente, ele foi expandido para tratar de denúncias de preconceito racial, violência contra a mulher e homofóbica. Além de receber a denúncia, o serviço promete encaminhar a ocorrência para autoridades policiais ou civis, dependendo do caso. Em casos extremos, o requerente pode pedir proteção do Estado.
A PARADA
6ª Parada LGBT de Marituba acontece domingo (3), a partir das 14h. Concentração na Praça Matriz de Marituba. Informações: (91)8825-4614/ 8203-1582.
(Diário do Pará)

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