Eike Batista lança manual para aspirantes a empreendedores



Eike na Califórnia, em um dos eventos que passou a frequentar após aparecer na lista de bilionários da 'Forbes' Foto: Jonathan Alcorn / Agência O Globo


Eike na Califórnia, em um dos eventos que passou a frequentar após aparecer na lista de bilionários da 'Forbes' Jonathan Alcorn / Agência O Globo
RIO - O ano era 1987. O cenário, a acidentada cadeia de montanhas chilena. A quatro mil metros de altura, estava La Coipa, uma mina de ouro em pleno deserto do Atacama com grande potencial de exploração, mas envolta em mais de cem litígios. Eike Batista, então presidente do Conselho de Administração da canadense TVX, propôs investir no local. O Conselho rejeitou a proposta, mas deu carta branca a Eike para desenvolver o projeto sozinho, por sua conta e risco. Seis meses depois os entraves jurídicos haviam sido solucionados e a infraestrutura de água e energia elétrica — praticamente inexistente na região — estava implantada.
O êxito foi tamanho que a TVX comprou o projeto de Eike e lhe ofereceu a presidência executiva da empresa. Mais tarde, ele sairia da companhia com seu primeiro bilhão, pronto para fundar o conglomerado EBX, que atua em setores distintos como petróleo e mineração e do qual está à frente hoje. As decisões tomadas por Eike que lhe permitiram se sair bem nos negócios nos Andes sedimentaram a cartilha que orienta o grupo EBX hoje. Um conjunto de mandamentos que este mineiro de Governador Valadares segue religiosamente e que decidiu compartilhar com aspirantes a empreendedores no livro "O X da questão" (Ed. Primeira Pessoa, preço sugerido de R$ 29,90), que será lançado amanhã, na Livraria da Travessa, no Shopping Leblon.
Vendedor de diamantes e tiro nas costas
O livro é uma espécie de manual para futuros empresários. Nele, o leitor é apresentado aos tais mandamentos que o homem mais rico do Brasil e o oitavo do mundo considera sua fórmula de sucesso. Boa parte deles — disciplina, auto-estima, acreditar nos sonhos — já faz parte do vocabulário dos guias de empreendedorismo. Talvez o mais inovador seja o que Eike chama de visão 360 graus, na qual são avaliados nove aspectos do negócio, de questões financeiras e políticas a jurídicas e ambientais. Foi a experiência no Chile que o fez adotar essa abordagem multidisciplinar. Com essa bússola em mãos, Eike viu sua fortuna explodir. Hoje, aos 55 anos, está sentado sobre ativos que valem mais de US$ 60 bilhões.
Mas a aventura de Eike na mineração começa bem antes de La Coipa. Ele cursava engenharia metalúrgica na Alemanha, para onde havia se mudado com a família, quando conheceu garimpeiros que vendiam diamantes no Rio. Logo passou a intermediar a venda de diamantes a clientes na Bélgica. Encantou-se com o mundo das pedras preciosas e decidiu abandonar a faculdade para buscar ouro no interior do Brasil.
Com dois amigos joalheiros, levantou US$ 500 mil e partiu para Itaituba (PA). Seguindo o $dourado, passou por Alta Floresta (MT), Novo Astro (AP), Paracatu (MG), entre outras localidades onde o garimpo florescia. Teve de driblar a malária — comia alho para espantar o mosquito — e chegou a levar um tiro nas costas após uma discussão, mas conseguiu atrair sócios de peso, como a anglo-australiana Rio Tinto. Isso acabou $a atenção da canadense TVX, que, em 1983, o chamou para ser sócio em novos projetos dentro e fora do Brasil. Foi o pulo do gato de Eike.
Luma e briga com Landim ficam de fora do livro
Até a criação do grupo EBX, porém, o executivo trilharia um caminho tortuoso. Foram muitos fracassos: minas que não vingaram na Rússia e na República Tcheca, uma fábrica de jipes no Brasil e até uma empresa de encomendas expressas que visava a concorrer com os Correios. Nos cálculos de Eike, foram US$ 500 milhões pelo ralo. Mas ele soube reconhecer as derrotas — esse é outro mandamento — e admite que não tem "toque de Midas". "Meus fracassos provam que não sou infalível, é bobagem imaginar que transformo qualquer coisa em ouro", escreve Eike no capítulo dedicado a suas frustrações.
A persistência e disciplina para seguir em frente foram lições que ele e os seis irmãos aprenderam com a mãe, a alemã Jutta, diz Eike em uma das poucas passagens do livro que menciona suas relações familiares. O executivo sequer cita Luma de Oliveira, com quem foi casado por pouco mais de dez anos. Também não há muitas menções ao pai, Eliezer Batista, responsável pela infância nômade de Eike, devido às intensas viagens como presidente da Vale. A vida pessoal do executivo será foco de uma biografia que está sendo escrita pelo jornalista do "New York Times" Alan Riding e que deve ficar pronta em dois anos.
Os episódios corporativos polêmicos também ficaram de fora de "O X da questão". Caso da briga com Rodolfo Landim, ex-executivo do grupo EBX com quem Eike trava uma batalha milionária na Justiça.
No livro, fruto de entrevistas ao jornalista Roberto D'Ávila, Eike aproveita para criticar empresários brasileiros pela falta de ousadia. E diz que uma certa dose de megalomania é saudável. "Não tenho vergonha de ser rico. Fui tachado de megalomaníaco, vaidoso, orgulhoso. Minhas respostas a essas acusações é que nada disso representa defeito ou algo reprovável. Todo empreendedor deve ter orgulho do que realizou", diz.
Uma certa vaidade de fato transparece no texto. Eike se orgulha não apenas de ter "olhos de águia" para enxergar oportunidades, como também de ter contribuído para "a inserção do Brasil no mapa-múndi dos negócios". Mas mesmo com bilhões a perder de vista, não pretende pendurar as chuteiras tão cedo. Entre as próximas apostas estão investimentos em ouro e carvão na Colômbia.
— Sou um empresário-atleta, vivo uma maratona de negócios. Ainda vou criar muitas empresas de bilhão — diz.
Apesar de reconhecer fracassos em sua trajetória profissional, o empresário Eike Batista diz que ser o homem mais rico do Brasil não é para qualquer um e que isso exige uma certa dose de megalomania. A dele, diz, foi querer competir com Vale e Petrobras ao mesmo tempo.
Muitas pessoas dizem que o fato de seu pai ter sido presidente da Vale favoreceu seus negócios, pois ele teria uma espécie de mapa da mina brasileiro...
EIKE BATISTA: Meu pai preservou o nome dele ao não deixar qualquer de seus sete filhos chegar perto da Vale. Sabe de uma coisa? Meu pai é um homem de Estado, não gosta de correr riscos. Somos bichos 100% diferentes. Quando Deus o fez, botou no pote dele: falar dez línguas etc. Deus deixou o item saber fazer dinheiro para o meu pote.
Você lista uma série de mandamentos no seu livro para orientar futuros empreen$. Basta seguir esses passos para se tornar o homem mais rico do mundo?
BATISTA: Não exatamente. Cada um de nós é forjado de um jeito. Foi minha mãe que me ensinou o que é ter auto-estima, por exemplo. Mas há pessoas que têm mais talento que outras. Ser maestro não é para todo mundo.
Um de seus conselhos é ter uma certa dose de megalomania. Qual foi a sua?
BATISTA: Querer competir com Vale e Petrobras ao mesmo tempo. O Brasil tem potencial enorme, é muito maior que Vale e Petrobras. Então, disse para mim mesmo: não é possível que só elas achem (petróleo e minérios).
Você critica a falta de ousadia do empresário brasileiro. Por quê?
BATISTA: Me impressiona o fato de sermos uma potência agrícola e o centro de excelência em agricultura ser estatal, a Embrapa. Não estaríamos explorando o pré-sal se não fosse a Petrobras. É sempre o Estado.

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