Máquina “Love”, você teve uma! (não?)

by Marco Evangelista

Se você esteve nos 80′s; você tinha uma. Como eu sei? Bem, simplesmente todos tiveram. Eram quase tão populares quanto as atuais máquinas digitais.

Antes das Love

Depois de décadas sem grandes evoluções, a primeira grande revolução antes das Love aconteceu em 1978/79: As câmeras tipo instamatic. Eram câmeras onde não mais precisava colocar o carretel e instalá-lo no eixo interno: O cartucho de filme inteiro, com os dois carretéis, já vinham pronto, bastava a abrir a câmera e encaixá-lo.

Antes das Love, a "Tira Teima" foi a máquina do momento.

Então, de repente…

Eis que surge com uma avalanche de marketing aquela que, por quase seis anos, seria produto obrigatório ao homos médium: As Love.
As revistas e programas nacionais de TV foram tomados de assalto por uma novidade: Uma máquina que já vinha com filme e depois de tiradas as 20 "poses" do filme, a própria máquina (não apenas o filme!) era enviado ao laboratório, que entregaria as fotos reveladas e uma nova máquina, pronta para disparar mais 20 fotos.
Isso era a Love.

Alavancou o produto não só a facilidade de uso, mas também o fato dela ser pequenininha.


A caixa em que ela vinha era pequena. Vinha envolto em um envelope de papel metálico. Em volta do envelope havia uma folheto de instruções e um envelope para, em não havendo Sonora no local, ser enviada para a Sonora (do Japiim!).

Houve uma versão chamada "Love Plus" que vinha com um saquinho de pano e, na revelação, se recebia mais duas cópias de cada foto; e uma tal de "Love Mulher", a diferença? ser, exceto a frente, na cor vermelho escuro e, obviamente, mais cara.
Por que tantos novos lançamentos? Bem, é que em época do Plano Cruzado houve congelamento de preços. A única saída para as indústrias da época era lançar novos produtos, pois assim conseguia-se, "legalmente", não ter o preço tabelado (como algo sem existência anterior poderia ter preço congelado?)


O preço da Love, pelo que posso lembrar de comparação, seria algo por volta de 12 a 16 Reais hoje, lembro bem que era mais ou menos o valor de uma revelação mesmo. E o estranho era o lance da propaganda: "Você revela e recebe outra Love grátis", é mole? Mas nem tínhamos a malícia de questionar isso.
O negativo era mais fino (não era 35 mm), mais ou menos da largura de um dedo indicador. As fotos vinham com duas cópias pequenininhas do lado, que se podia cortar e dar de presente. As "Love Plus" tinham, como eu lembrei, como o "plus" o fato de cada foto vir com mais duas, do mesmo tamanho (a revelação era bem mais cara, ou seja, "negoção" esse plus!…)
Certa vez eu abri uma Love. O mecanismo era muito simples: Nada havia de elétrico, tudo era mecânico e manual. Não havia carretel do filme, ele ficava em um invólucro circular dentro da máquina. De complexo só a abertura do obturador, que tinha um arame longo que fazia um círculo, que lhe dava a mola de abertura, ao disparo.
O giro do filme para a próxima foto era manual também, bastando girar a base do flash, que ficava em cima da câmera. Uma janelinha atrás da máquina mostrava o número da pose em que estava o filme.
O flash era vendido à parte. Quatro luzes descartáveis. (Sim, pra tirar 20 fotos noturnas iam cinco flashes). O que nunca consegui descobrir era como o flash disparava, já que não existia absolutamente nenhum mecanismo elétrico na máquina. (A minha teoria é que no flash devia ter bateriazinhas que se consumiam ao contato, mecânico, do circuito, ou deviam vir com capacitor pré-carregados, o mistério ficará insolúvel).
Algo que só depois eu perceberia é que foi a primeira, e até agora única, vez em que algo produzido e com matriz em Manaus movimentava o país inteiro.
Sim, A Sonoro, até onde eu sei, genuinamente amazonense, a fábrica ficava no Japiim. Lembro de um senhor do setor de compras da Sonora me explicando (em um comércio que tínhamos, e que tínhamos a Sonora como cliente) que chegava centenas de máquinas todos os dias para revelação (realmente, como se pode ver no selo inferior da máquina, o destino era aqui mesmo!)

O fim das "Love"

Não, não foi máquinas digitais que mataram a Love (isso só viria mais de dez anos depois), foram as empresas de revelação instantânea, como a foto-hora. Sim, passou a não fazer sentido pagar revelação mais cara que um filme comum, para apenas 25 poses (os filmes comuns vinham com 24 ou 36) e ainda esperar dias para ver o resultado. E as empresas de revelação instantânea cumpriam mesmo o prometido: uma hora e meia/duas horas depois estava tudo lá, revelado: mas não revelavam Love, então…

Já nos últimos dias da Love, a Sonora entregava uma bolsa térmica para quem levasse filmes pra revelar lá. 1988 (pelo que lembro) viu a Love sumir e, algo em torno de dois anos depois, a própria Sonora viraria história.

Aqui era a fábrica da Sonora, que produzia as "Love". (Japiim)
Voltando ao título do post, fiz um enquete essa semana, conclui:
Se você tem mais de 35 anos —> você TEVE uma Love;
Se você tem entre 30 e 35 anos —> você não teve a Love, mas já ouviu falar sobre;
Se você tem menos de 30 anos—> você nem sabe o que foi a Love

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