Morre Billy Blanco



É Nilson Chaves quem dá talvez a principal definição, num trecho do DVD ‘Billy Blanco, o compositor’, dirigido por Carmen Ribas. “Se você for falar de música popular brasileira, não tem como não falar de Billy Blanco. Ele faz parte não apenas como um artista amazônico, mas como um compositor brasileiro”, diz o cantor. Pois o autor de ‘Tereza da Praia’, considerado pelos franceses como um dos fundadores da bossa nova, morreu ontem, no Rio de Janeiro, aos 87 anos. E, de forma mais do que definitiva, entra para o panteão dos grandes mestres da moderna música brasileira.
Billy Blanco estava internado no Hospital Panamericano, na Tijuca. Estava lá desde outubro do ano passado, na Unidade de Terapia Intensiva desde que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Ontem, Blanco teve uma parada cardíaca e não resistiu.
A ministra de Estado da Cultura Ana de Hollanda divulgou nota lamentando a morte do cantor e compositor. “Billy Blanco deixa um forte vazio na MPB, exatamente porque nos lega letras bem-humoradas sobre a vida cotidiana e que abriram o caminho para a bossa nova. E as habilidades de Billy não se resumiram ao violão e aos versos: foi também um conceituado arquiteto. Ligações desse nível com a música e com a cultura do Rio e do Brasil solidificaram a admiração daqueles que reconhecem os grandes artistas. Transmito meu profundo sentimento aos familiares, amigos e admiradores”.
Pode ser que os mais jovens ou os menos ligados à música não saibam ou não tenham a exata dimensão do porte de Billy Blanco para a música brasileira. É pena. No Youtube, por exemplo, há pelo menos 816 referências a esse paraense. Muito bem acompanhado, diga-se de passagem, por nomes da mais fina flor da música brasileira.
Informado pelo DIÁRIO da morte de Billy Blanco, Danilo Caymmi disse ter sido pego de surpresa. Depois respirou fundo e disse que a música de Blanco tinha uma “fundamental importância, pela proximidade de Tom Jobim, por exemplo, e com todo o cenário da bossa nova. Estou muito triste. Estou ao lado do meu irmão Dori. A Nana está viajando agora, mas em nome de toda a família Caymmi digo que estamos muito entristecidos”.
O músico Pedrinho Cavaléro soube da morte por intermédio do violonista Nego Nelson. “Ele chegou antes da bossa nova e mudou a maneira de escrever canções. Trouxe a coisa do cronista urbano, de costumes, botou humor, um pouco de sacanagem, tudo isso muito bem feito, bem colocado. Ele trouxe uma lufada de ar fresco num cenário que já estava se refrescando com a bossa nova”.
Cavalléro não está errado. As letras de Blanco transpiravam coloquialidade. Em “A banca do distinto”, por exemplo, Billy Blanco destilava ironia. “Não fala com pobre, não dá mão a preto, não carrega embrulho/ Pra que tanta pose, doutor?/Pra que esse orgulho?/A bruxa que é cega esbarra na gente e a vida estanca/O enfarte lhe pega, doutor, e acaba essa banca”.

LETRAS
Atento e afiado observador desses costumes urbanos de cidades em desenvolvimento acelerado, Billy Blanco conseguia dar vazão a um texto imagético, como se prontos para clips, antes mesmo que eles estivessem em voga. O que dizer da letra de ‘Amanhecendo’?: “A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição, porque tudo se repete, são sete, e às sete, explode em multidão/ Portas de aço se levantam! Todos parecem correr! Não correm “de” correm “para”/Para São Paulo crescer!”.
William Blanco Trindade, nome de batismo, foi um dos compositores mais importantes da MPB. Suas primeiras composições foram interpretadas por nomes como Dolores Duran e Linda Batista. O primeiro sucesso foi “Estatutos da gafieira”, na voz de Inesita Barroso, cantora que ficou eternizada depois pela chamada música caipira. Nos anos 50 e 60, Billy Blanco foi gravado por Dick Farney, Lúcio Alves, Elis Regina, João Gilberto, Dolores Duran, Silvio Caldas, Nora Ney, Jamelão, Elizete Cardoso, Dóris Monteiro, Os Cariocas, Pery Ribeiro, Miltinho, Hebe Camargo, entre outros. (Diário do Pará)

Nenhum comentário:

Postar um comentário